Por Berna Almeida
crônicas -
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Vez por outra vou visitá-la…
A cada dia sinto mais forte a tristeza que ela carrega dentro de si. Sinto seus medos, não gosta de ficar sozinha, toda hora me diz: Berna como você é boa para mim!
Essa noite perguntei: – Você está com sono?
– Estou sim, quero ir para o quarto , mas você vai ficar comigo lá, não vai?
A levei para o quarto, ela já não sabe mais como ir.
– Esse travesseiro aqui é para você, está limpinho. Você não vai embora não, né? – Perguntou-me.
– Fica tranquila, eu vou ficar aqui com você.
– Berna você é muito boa para mim. – Ela repetiu e chorou.
Mais uma vez senti pena, mais uma vez lembrei de minha mãe e dei de cara com o mesmo sujeito que invadiu a nossa casa, anos atrás.
Hoje a mulher que meu pai escolheu como esposa, após minha mãe ter nos abandonado, se encontra na mesma batalha contra 1 sujeito chamado Alzheimer.
O que é a vida? O que somos? No que nos tornaremos?
Como foi dura, complicada a minha adolescência, e na fase adulta com está mulher. Nunca demos certo, eu batia de frente todas as vezes que não aceitava certas atitudes. Cresci sabendo que ela não me suportava, mas não havia outro jeito, tínhamos que nos engolir.
Os hematomas internos causados por ela, não me fazem ter raiva, não me sinto feliz por ela ter essa doença, mesmo sabendo a resposta, se a situação fosse contrária.
Mas estou fazendo a minha parte, e ao vê-la sinto o tempo perdido no passado, o tempo perdido na incompreensão, nas brigas, picuinhas desnecessárias, raivas, na falta de perdão.
Hoje ela precisa de cuidados, de carinho, de amor, de paciência, e tenho procurado tornar o mundinho dela, mais ameno.
Gostaria muito de todo o meu coração, que a cura fosse encontrada, que ela voltasse ao normal, que o amor pela vida, por ela, pelos netos, florescesse…
Ao longo desses anos, aprendi tirar lições dos sofrimentos, e vejo que doenças aparecem para burilar nossas almas, e através delas precisamos crescer, precisamos perdoar, precisamos abrir portas, retirar as pedras do caminho. Precisamos crescer com a dor, precisamos crescer com as feridas abertas em nós.
Precisamos ser gratos as pessoas que precisam de nós, porque somos nós quem nos curamos através delas, e só assim conseguiremos cumprir com essa missão nesse nosso maravilhoso palco chamado Vida, conjugando em todos os sentidos, o verbo Amar e Perdoar.
Autoria: Berna Almeida