Por Berna Almeida

crônicas -

Rotina


Amanheceu…

Abro os olhos, levanto depressa para não perder a hora de dar o remédio de mamãe…

Quando estou indo para a cozinha… Me vem aquele estalo…

Cadê mamãe?

Meu Deus, 10 anos fazendo as mesmas coisas!!!

E agora? O que eu vou fazer de minha vida, sem ela?


Quantos (as) estão nestas mesmas condições procurando um caminho, procurando a porta que foi fechado anos atrás, acreditando que nunca mais retornaria.

Anos se passaram, nos deixamos levar pela rotina, nos acostumamos com esta vidinha culpando ao restante da família, pelas nossas próprias escolhas…

Cadê mamãe?

Esquecemos porem que a vida segue, ela não espera recuperarmos as perdas e danos, ela não espera nos convalescer, ela não esperar as feridas cicatrizarem, ela não espera engolirmos o choro…

A vida não está preocupada com o nosso posicionamento diante dela, enquanto houver folego e abrirmos os olhos todas as manhãs, ela continuará nos cobrando uma atitude perante aquilo que é colocado em nossas mãos.


As chaves das portas que você permitiu fechar, já estão enferrujadas pelo tempo, pelas esperanças de trazer mamãe à tona, pela solidão, pelo abandono, pela tristeza, pela impotência…

Mamãe não está mais, mamãe não faz mais parte de meus cuidados…

Mamãe não volta mais…

A quem dar os remédios, a quem dar o banho, a quem levar ao médico, por quem levantar aos sobressaltos com medo de engasgos, febres, convulsões???

Mamãe me disse adeus desde o dia que adentrei pela porta de sua casa, abrindo mão de minha vida, de meus sonhos…

Mamãe partiu desde o dia que abri mão do meu salto 15 e optei por uma rasteirinha para ter equilíbrio em carregá-la durante a travessia…

Cadê mamãe?

Cadê as chaves que abrem as janelas para o sol adentrar?

Cadê as minhas forças para eu levantar e prosseguir???

O que eu vou fazer de minha vida sem mamãe?

Mamãe se foi…

Cadê eu?



Autoria: Berna Almeida