Por Berna Almeida

crônicas -

Renúncia


Cuidar de uma pessoa com Alzheimer é para alguém que não teme os vendavais que vez por outra pintam, quando acreditamos que o mar está calmo.

Esse mar não se acalma, saibam disto, ele é revolto o tempo inteiro, e quando pensamos que o dia raiou repleto de flores, vem uma chuva avassaladora e nos leva toda a esperança que tínhamos de ver as roupas secando ao sol.

Molhou tudo novamente, ele para ajudar sujou fraldas, cama, isto quando não passa as fezes nas paredes, e para ele está tudo certo e tudo lindo… Mundinho deles..

Quem está preparado para isto? Sim, as mães estavam sim e quando algum parente dizia que viria ajudar, a resposta era certeira:


·        Não precisa, é meu filho.

E ela ficava ali, firme, forte, olhava para o filho em preces, tipo:

·        Senhor, tenha misericórdia de meu filho!

Mal terminava suas rogativas já tinha que preparar a comida, dar banho nos outros para irem para a escola, arrumar a casa, lavar roupa, mas sempre que tinha um tempinho voltava no filho, agradecia, fazia mais uma prece e voltava a labuta.


Assim são as mães com os filhos doentes em casa, elas não param e não hesitam em passar noites em claro, sentada ao lado do filho, segurando sua mão para que eles sintam o amor dispensado nas suas…

Cuidar de alguém com Alzheimer não requer diploma profissional, requer RENÚNCIA, e me refiro não ao Cuidador Formal, mas a todos aqueles que abriram mão de sua vida em prol do outro. Isso não é para qualquer um porque o doente de Alzheimer não tem noção do que está ocorrendo em sua cabeça, ele está vivenciando aquilo que o cérebro transmite.


Cuidador Formal ou Informal tem noção disto? Quem comanda seu cérebro? Quem você acha que fica de pirracinhas, inventando histórias e passando vergonha nas ruas ?

Muitos filhos não aceitam, se rebelam, se envergonham das atitudes, somem…

Na hora do diagnóstico quando todos se reúnem para resolverem a questão, quando tudo acontece no calor da hora, só se escuta a balela de que: “ Eu fico, pode deixar, são meus pais, eu ajudo”

Mas depois…

Enquanto isto , a mãe acabou de colocar os outros na cama e se ajeita ao lado do filho doente para mais uma noite entre cochilos, preces, e gratidão. Afinal, é seu filho.



Autora: Berna Almeida