Por Berna Almeida

crônicas -

Permissões


Sem nenhuma estrutura psicológica, emocional, sem uma visão profissional do que é o cuidar do outro, simplesmente Cuidadores informais renunciam suas próprias vidas, seus empregos, seus amores, seus sonhos…

RENUNCIARAM-SE!!!

E agora?

Nós temos a mania de cuidar dos nossos entes queridos e infelizmente esquecer de nós, esquecemos que apesar dos pesares depois que eles partem, precisamos continuar, precisamos voltar ao mercado de trabalho, precisamos voltar a nos dar a chance de alguém nos amar novamente, precisamos fazer um check-up, precisamos viajar, precisar estar inteiros para uma nova fase de nossas vidas.

Quando não permitimos isto, as sequelas deixadas por anos na luta, nos aprisionam, aliás a partir de um determinado tempo em que estamos envolvidos com o ente querido, começamos a nos mutilar mentalmente, a ter comiseração, a nos deixar de lado em prol do outro…


Que amor é este? Ouço e leio inúmeros depoimentos em que o Cuidador não aceita que mais ninguém cuide, porque só ele sabe cuidar, cuidador que não vai a um cinema com medo de acontecer algo, como se ele estando, nada de mal acontece.

Ledo engano esse nosso, em vários quesitos, cuidar é nosso dever, como filho (a), como gratidão aos que nos deram a vida, mas nós também temos os nossos que precisam de nós… temos a nós que precisam de nós…

Precisamos parar em frente a um espelho, e nos perguntar por qual razão permitimos em não mais nos encontrar diante de nós mesmos…

Por que permitimos?

O ente querido tem o Cuidador, e o Cuidador, a quem tem?

Após a partida quem fica para cuidar de quem cuidou?

Que amor é este que permitimos ser dilacerados mentalmente e emocionalmente?


Cuidadores sequelados, vitimados e que precisam de ajuda, precisam de socorro…

Não é assim que iremos resolver uma questão tão complexa, Alzheimer não tem cura, mas não é por isto que você irá cuidar só de um.

E você?

O ente querido se foi, ficaram de herança as contas a pagar, sem emprego, sem nenhuma estrutura psicológica, emocional, doenças psicossomáticas, perdidos, sem rumo…

E agora???

O que você vai fazer com o que VOCÊ PERMITIU que sobrasse de você?

Autoria: Berna Almeida